top of page

A Primavera que Caço é um mar

Sabe quando a narrativa te surpreende, quando imediatamente você se sente conectado com as linhas que o narrador vai te oferecendo?

Pois é assim que A Primavera que Caço é um Mar do autor Maiky S. me fez sentir. Não foi uma leitura rápida pois, mesmo sendo um livro curtinho, tudo que é contado tem uma densidade que te faz querer ir com calma pra entender e absorver as metáforas das memórias do narrador.

O livro fala sobre perdas, abandonos, dores emocionais e físicas, dores de alma, dores de vida, aborda temas como ansiedade generalizada, síndrome do pânico e envereda pela busca da verdade e da cura emocional do narrador.

Eu chorei com as emoções vividas em cada linha, senti raiva, torci pelo narrador, larguei o livro, me dei um tempo, respirei, peguei pra terminá-lo e quando terminei senti aquela falta do personagem cantando suas metáforas intrincadas de uma mente complexamente exposta.

Tudo que posso dizer sobre essa obra é que o autor acerta no tom, no tema e na condução, tudo isso faz com que a conexão do leitor seja praticamente inevitável.

 

Trocando ideia com o autor

Nome: Maiky da Silva

Idade: 22 anos

Cidade/estado: Cansanção, Bahia


Jaque: De onde veio a inspiração para o seu livro?


Maiky: Posso dizer que o livro começou há muitos anos, mais como uma intenção de abordar um determinado tema, a paternidade, do que propriamente a ideia de uma história. Porém, em um sábado, minha mãe contou pra gente um caso que tinha acontecido na cidade e automaticamente a intenção encontrou a história. Disso surgiu um conto. Porém, anos depois eu já tinha descartado o conto e planejava retomar a ideia em um romance. Quando retomei a ideia e comecei a executar, minha vida deu conta de levar o livro para outros lugares e assim ele foi tomando corpo. Resumindo, a inspiração veio de uma sequência de fatos reais, vivenciados por mim e por gente que eu nem conheci. É aquela história da colcha de retalhos...


Jaque: Qual a sensação de colocar algo tão íntimo seu como memórias, para o público ler?


Maiky: Eu sou um pouco tímido e bastante reservado. É uma sensação meio estranha. Porém, o livro, embora seja um tanto autobiográfico, não é autoficção. De certa forma, é um esconde-esconde até pra mim mesmo.


Jaque: Quando você se deu conta de que era um escritor?


Maiky: É uma pergunta difícil. Eu sempre quis ser. Antes mesmo de conhecer de fato a literatura. Eu passava as tardes lendo livros didáticos e já tinha essa ideia de “ser escritor” sem nem saber o que de fato era isso. Eu não lembro de uma iluminação nesse sentido. Foi bastante orgânico.


Jaque: Qual parte do seu livro foi mais difícil de escrever?


Maiky: Acho que o trecho onde o livro tenta dar conta de informar. É sempre difícil não soar panfletário, principalmente quando é necessário desmistificar informações equivocadas que estão enraizadas nas nossas cabeças. Depois de tentar vários desvios eu cheguei à conclusão de que talvez fosse necessário dar nome aos bois mesmo. Acho que é um momento necessário pra isso.


Jaque: Considerando o fato de que seu livro aborda um tema que infelizmente está cada vez mais recorrente (transtornos psicológicos), como você está vendo a recepção dos leitores, qual sua pretensão ao abordar o tema?


Maiky: Eu fico satisfeito em ouvir que pessoas que passam por problemas relatados no livro, identificam veracidade nos sentimentos do personagem. E que outras que talvez não passem, buscam entender o personagem, naquilo que, a elas, parece coerente e o que não.

Minha pretensão não era ensinar nada. Não era dizer que “é preciso aprender que”. Minha intenção era criar uma espécie de painel mental de um indivíduo tão confuso quanto os que estão ao redor dele. Porque de certa forma, muitas vezes é esta a situação. Acho que a busca por uma solução começa na humildade da gente entender que a gente não vai entender tudo e todos. E que não é isso que é necessário.

No geral, minha pretensão é a de que o livro desperte a vontade de se expressar àqueles que se sentem sobrecarregados (que era o meu caso e muitas vezes ainda é) e esclarecer a necessidade de ouvir, aos que, ainda bem, não passam pelos problemas abordados.


Jaque: Seu livro tem um ritmo diferente do habitual, você considera que tenha colocado uma obra experimental no mundo?


Maiky:Acho que tenho uma tendência a não contar histórias de um jeito usual. Por mania contemporânea? Talvez. Mas quando eu vou escrever um poema, ou conto, ou o que for, meu compromisso é com aquilo que eu vou falar. Como isso vai ser é a parte “divertida” da coisa, e eu gosto disso, então talvez tenha mesmo essa queda por explorar essa etapa. É importante falar que eu realmente espero que esse livro seja assimilado sem obscuridades não necessárias, mas qualquer experimentalismo nele tem muito a ver com a proposta de aproximar a história à questão. Não dá pra você expor certas problemáticas começando confortavelmente com “era uma vez” e terminado com um “final”.

Jaque: Quanto tempo durou o processo de escrita do seu livro e você possui um rito pra escrever (tem um lugar próprio, horários definidos, quantidades de páginas por dia)?

Maiky: O livro começou mesmo há muito tempo. Eu escrevi várias outras coisas ignorando ele porque sentia que não era a hora. Comecei algumas vezes e desisti. Sempre parecia faltar alguma coisa. Até que, por motivos de alguns acontecimentos na minha vida, ele se tornou pra mim as sessões de análise necessárias, e foi então que eu sentei a mão pra finalizar. Minha memória é péssima e eu não vou conseguir lembrar de números precisos. Mas depois que ele tomou forma, foi mais ou menos um ano pra concluir.

Quanto a escrever, minha única necessidade é estar sozinho e ter silêncio. Eu consigo isso geralmente de madrugada. Isso quando estou escrevendo prosa. Poesia é diferente. Vem a qualquer hora do dia ou da noite e não tá nem aí para as condições.


E em relação à quantidade de páginas, não tenho, nem me forço a ter. Quando eu me obrigo a escrever, eu odeio cada palavra e tudo me parece profundamente tosco e fingido. Em dias assim, eu deixo as coisas tomarem acento na mente. Pra mim, é parte da mecânica esses recessos. Isso pode mudar. Já foi diferente antes. Eu respeito.


Jaque: Está trabalhando em algum outro livro? Quais seus projetos futuros como escritor?


Maiky: Sim! Eu comecei recentemente um outro livro que está naquela fase de virar alguma coisa. Mas antes disso eu estava totalmente dedicado à poesia e finalizando algumas ideias. Agora, tá naquele caos que a gente espera que seja um caos produtivo.

Meus projetos futuros são ler, ler, ler, estudar e escrever. Não sei se nessa ordem. Mas acho que são esses.


Siga o autor no Instagram para acompanhar seu trabalho: @maiky.s


Destaque
Tags
Nenhum tag.
bottom of page