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Resenha: A Menina Submersa - Caitlín R. Kiernan

"Este livro é o que é, o que significa que ele não pode ser o livro que você espera que seja." (nota da autora.)

 

Sim, isso acima é um aviso, não crie expectativas sobre este livro.

Em uma narrativa extremamente densa embarcamos nas memórias de Imp. (India Morgan Phelps), uma jovem diagnosticada com esquizofrenia paranoica, aqui a ordem cronológica não importa, na verdade, esse mergulho na teia de pensamentos da personagem é algo tão imprevisível que te fará duvidar de cada linha aqui escrita. Imp. perdeu a mãe quando tinha dezessete anos e se pai a abandonara ainda criança, constantemente Imp. chama a avó e a própria mãe de malucas, já que essas viveram com doenças psicológicas, sua avó cometeu suicídio e Imp. tem certeza de que sua mãe também o fizera, mesmo que o hospital psiquiátrico em que ela estava internada alegasse que a morte se devia à uma convulsão. Influenciada pelo medo da "Maldição da família Phelps", Imp. procura ajuda médica e juntamente com o tratamento medicamentoso ela começa a escrever suas memórias que nos apresenta como histórias de fantasmas com uma sereia e um lobo.

 
Imp. cria uma fixação por criaturas místicas
 

Imp. conta como um quadro que ela conheceu quando tinha onze anos de idade em um museu influenciou seu comportamento, a menina submersa era uma tela pintada em óleo, retratava uma jovem nua próxima de um rio com uma postura alarmada olhando sobre o ombro para uma floresta atrás de si, como se estivesse sendo observada, India se tornou obcecada pelo contexto da tela e em uma tentativa de esclarecer o que aconteceu com os fatos ela acaba entrando em debate consigo provocando a estranheza tão peculiar que é a experiência deste livro. A Menina Submersa não é um livro de terror propriamente dito, já que desde o começo a narradora está fadada ao descrédito e muitas das ocorrências fantásticas do livro pode sim se dever ao estado mental avariado de Imp., porém, sempre fica a critério de cada leitor acreditar ou não.

 
As criaturas místicas que Imp. descreve
 

A narrativa se divide em uma espécie de diário, onde a Imp. narra os acontecimentos e como eles se deram em sua perspectiva, por outro lado a narradora também nos mostra ocorrências fora desse apanhado de memórias, uma sequência de eventos no tempo presente, tudo isso sendo narrado ora em primeira pessoa, ora em terceira, em muitos momentos consegue-se até mesmo sentir a tensão de um pico psicose da narradora, onde nem mesmo ela consegue se fixar em sua identidade.

 
libélula do rio



 

Este não é um livro para ler com pressa, a autora bombardeou as páginas com inúmeras referências, tais como Aokigahara - a floresta dos suicidas no Japão.

Posso dizer que a experiência de leitura foi como um pequeno laboratório, onde se pode observar os padrões comportamentais da esquizofrenia.

 

 

O impasse entre o normal e o insano é constante e isso te coloca em reflexão por muitas vezes, creio que esse seja o grande ponto alto desta obra, te fazer refletir ações do piloto automático, te instigar a relacionar detalhes que parecem desimportantes com grandes fatos da sua vida, pensar em o que é a paranoia, qual o grau seguro de suspeita que devemos dispor para o mundo?

 
Mulher de vermelho cercada por lobos

 

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